segunda-feira, 30 de abril de 2012


Xingu, o filme


Andar por terras em que ninguém andou... Esse era o sonho de três irmãos, nos anos 40, que vai mudar o destino de muita gente que vive ainda no coração do Brasil.

Por Eleonora Rosset, psicanalista   


Eles são os descendentes dos donos da terra que Cabral descobriu para os portugueses mas nunca tinham sido respeitados. Eram milhões, morreram muitos no contato com os brancos mas, agora, graças aos Villas Bôas, os índios tem um território só deles, o Parque do Xingu.

“Eles nunca tiveram fronteiras mas agora, fronteira era a melhor coisa que eles poderiam ter”, escreve Orlando Villas Bôas no livro que conta a história dos irmãos, “A Marcha para o Oeste”.

O filme “Xingu”,inspirado nesse livro, mostra com beleza e emoção, o que foi a vida dos três irmãos que, um dia, resolveram ir atrás de uma aventura, a primeira expedição que levaria homens brancos ao Roncador- Xingu. Era 1943 e Getulio Vargas estava à frente do governo.

Claudio (João Miguel), Orlando (Felipe Camargo) e Leonardo (Caio Blat), juntaram-se a peões e garimpeiros analfabetos e seguiram de avião de hélice rumo à floresta para fazer contato com os índios.

E, após o primeiro encontro, vencidos o medo e a estranheza, Orlando escreve:

“Para mim eles não era selvagens. Eu, simplesmente estava diante de outra civilização. O encontro mudou as nossas vidas para sempre.”

Cao Hamburger ( “O Ano em que Meus Pais Sairam de Férias” 2006) dirigiu “Xingu”acompanhando os irmãos defensores dos índios, fazendo com que os brasileiros que nunca tinham ouvido falar deles ou muito vagamente, fizessem essa descoberta.

Fazer contato era a missão deles. Com suas canoas a remo, cruzavam os rios de Mato Grosso, à procura de povos indígenas que nunca tinham visto um homem branco.

Mas os impecilhos, as decepções, a falta de apoio do governo, as lutas com os homens que cobiçavam as terras dos índios e pagavam para vê-los exterminados e as brigas entre os irmãos por causa das condições de vida que estavam longe da aventura sonhada inicialmente, são o recheio do filme.

Estamos num pedaço virgem do Brasil e o que restou dos povos da mata, amparados pelos Villas Bôas, iniciou em 1961 (ano em que terras da reserva são doadas por decreto do presidente Janio Quadros), um trabalho que irá culminar com a solidificação do Parque Nacional do Xingu, hoje uma realidade.

Cao Hamburguer, o diretor do filme diz:

“- Queria muito ter o ponto de vista dos índios nessa história, por isso fiz questão que participassem da pesquisa, contribuíssem no roteiro e trabalhassem como atores.”

Cao Hamburguer conseguiu com isso que o filme tivesse uma autenticidade necessária para dar peso à epopéia que é contada. E também chamar a atenção para a causa defendida.

Depois de “Xingu”, além da admiração pelo trabalho dos irmãos Villas Bôas, indicados ao prêmio Nobel em 1971, outro ponto importante é levantado: a questão dos povos indígenas ainda precisa ser mais amplamente discutida pelos brasileiros.

Como integrar o índio de maneira sensata, ao mesmo tempo respeitando sua cultura? É uma tarefa difícil, mas necessária, para a nossa geração e as futuras.


OPINIÃO DO EDITOR DO BLOG: 
Hoje assisti pela segunda vez esse maravilhoso filme. Levei meu filho Cauã, de 9 anos. Ao final da sessão encontrei com Ailton Krenak, que também levou o seu filho Krenba, da mesma idade. Enquanto saboreavamos açaí, falamos sobre a situação dos indígenas no mundo atual. Apesar do capitalismo selvagem, da cobiça que parece fazer parte do ser humano, ambos concordamos em um ponto fundamental: a geração dos nossos filhos está mais preparada para aceitar as diferenças e para cuidar melhor do nosso planeta. Ainda resta a esperança e uma luz no fim do...mundo. Ererhé!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

                                       Jindungo (Piri-piri ou pimenta-no Brasil, ou malagueta)





Quem coloca o jindungo no dia-a-dia está levando, além de tempero, uma série de medicamentos naturais: analgésico, antiinflamatório, xarope, vitaminas, benefícios que os povos primitivos descobriram há milhares de anos que agora estão sendo comprovados pela ciência.

O jindungo faz bem à saúde e seu consumo é essencial para quem tem enxaqueca. Essa afirmação pode cair como uma surpresa para muitas pessoas que, até hoje, acham que o condimento ardido deve ser evitado. O jindungo traz consigo alguns mitos, como por exemplo o de que provoca gastrite, úlcera, pressão alta e até hemorróidas.. Nada disso é verdade. Por incrível que pareça, as pesquisas científicas mostram justamente o oposto! A substância química que dá ao jindungo o seu caráter ardido é exatamente aquela que possui as propriedades benéficas à saúde.

No caso da pimenta-do-reino, o nome da substância é piperina. No jindungo, é a capsaicina. Surpresa! Elas provocam a liberação de endorfinas - verdadeiras morfinas internas, analgésicos naturais extremamente potentes que o nosso cérebro fabrica! O mecanismo é simples: Assim que você ingere um alimento apimentado, a capsaicina ou a piperina ativam receptores sensíveis na língua e na boca. Esses receptores transmitem ao cérebro uma mensagem primitiva e genérica, de que a sua boca estaria pegando fogo. Tal informação, gera, imediatamente, uma resposta do cérebro no sentido de salvá-lo desse fogo: você começa a salivar, sua face transpira e seu nariz fica úmido, tudo isso no intuito de refrescá-lo. Além disso, embora a pimenta não tenha provocado nenhum dano físico real, seu cérebro, enganado pela informação que sua boca estava pegando fogo, inicia, de pronto, a fabricação de endorfinas, que permanecem um bom tempo no seu organismo, provocando uma sensação de bem-estar, uma euforia, um tipo de barato, um estado alterado de consciência muito agradável, causado pelo verdadeiro banho de morfina interna do cérebro. E tudo isso sem nenhuma gota de álcool!

Quanto mais arder o jindungo, mais endorfina é produzida! E quanto mais endorfina, menos dor e menos enxaqueca. E tem mais: as substâncias picantes do jindungo (capsaicina e piperina) melhoram a digestão, estimulando as secreções do estômago. Possuem efeito carminativo (antiflatulência). Estimulam a circulação no estômago, favorecendo a cicatrização de feridas (úlceras), desde que, é claro, outras medidas alimentares e de estilo de vida sejam aplicadas conjuntamente. Existem cada vez mais estudos demonstrando a potente ação antioxidante (antienvelhecimento) da capsaicina e piperina. Pesquisadores do mundo todo não param de descobrir que o jindungo, tanto do gênero piper (pimenta-do-reino) como do capsicum (jindungo), tem qualidades farmacológicas importantes. Além dos princípios ativos capsaicina e piperina, o condimento é muito rico em vitaminas A, E e C, ácido fólico, zinco e potássio. Tem, por isso, fortes propriedades antioxidantes e protetores do DNA celular. Também contém bioflavonóides, pigmentos vegetais que previnem o câncer.

Graças a essas vantagens, a planta já está classificada como alimento funcional, o que significa que, além de seus nutrientes, possui componentes que promovem e preservam a saúde. Hoje ela é usada como matéria-prima para vários remédios que aliviam dores musculares e reumatismo, desordens gastrintestinais e na prevenção de arteriosclerose. Apesar disso, muitas pessoas ainda têm receio de consumi-la, pois acreditam que possa causar mais mal do que bem. Se você é uma delas, saiba que diversos estudos recentes têm revelado que o jindungo não é um veneno nem mesmo para quem tem hemorróidas, gastrite ou hipertensão


DOENÇAS QUE O JINDUNGO CURA E PREVINE

Baixa imunidade - O jindungo tem sido aplicada em diversas partes do mundo no combate à aids com resultados promissores.

Câncer - Pesquisas nos Estados Unidos apontam a capacidade da capsaicina de inibir o crescimento de células de tumor maligno na próstata, sem causar toxicidade. Outro grupo de cientistas tratou seres humanos portadores de tumores pancreáticos malignos com doses desse mesmo princípio ativo. Depois de algum tempo constataram que houve redução de 50% dos tumores, sem afetação das células pancreáticas saudáveis ou efeitos colaterais. Já em Taiwan os médicos observaram a morte de células cancerosas do esôfago.

Depressão - A ingestão da iguaria aumenta a liberação de noradrenalina e adrenalina, responsáveis pelo nosso estado de alerta, que está associado tb à melhora do ânimo em pessoas deprimidas.

Enxaqueca - Provoca a liberação de endorfinas, analgésicos naturais potentes, que atenuam a dor.

Esquistossomose - A cubebina, extraída de um tipo de pimenta asiática, foi usada em uma substância semi-sintética por cientistas da Universidade de Franca e da Universidade de São Paulo. Depois do tratamento (que tem baixa toxicidade e, por isso, é mais seguro), a doença em cobaias foi eliminada.

Feridas abertas - É anti-séptica, analgésica, cicatrizante e anti-hemorrágica quando o seu pó é colocado diretamente sobre a pele machucada. Gripes e resfriados - Tanto para o tratamento quanto para a prevenção dessas doenças, é comum recomendar a ingestão de um pequeno jindungo por dia, como se fosse uma pílula. Hemorróidas - A capsaicina tem poder cicatrizante e já existem remédios com jindungo para uso tópico.

Infecções - O alimento combate as bactérias, já que tem poder bacteriostático e bactericida, e não prejudica o sistema de defesa. Pelo contrário, até estimula a recuperação imunológica.

Males do coração - O jindungo caiena tem sido apontada como capaz de interromper um ataque cardíaco em 30 segundos.. Ela contém componentes anticoagulantes que ajudam na desobstrução dos vasos sanguíneos e ativam a circulação arterial.

Obesidade - Consumida nas refeições, ela estimula o organismo a diminuir o apetite nas seguintes. Um estudo revelou que o jindungo derrete os estoques de energia acumulados em forma de gordura corporal. Além disso, aumenta a temperatura (termogênese) e, para dissipá-la, o organismo gasta mais calorias. As pesquisas indicam que cada grama queima 45 calorias.

Pressão alta - Como tem propriedades vasodilatadoras, ajuda a regularizar a pressão arterial.

IMPORTANTE:
* Jindungo é uma palavra oriunda do Quimbundo, uma língua Banta falada em Angola


e designa a pimenta pertencente à família das Solanáceas e ao gênero

Capsicum frutescens. Em Portugal e Moçambique as pimentas ardentes

são chamadas de Piri-Piri. Como as cultivares existentes hoje em dia

são resultado de diversos cruzamentos ao longo dos anos, existem pequenas

diferenças de tamanho, coloração e picância entre as variedades "primas".

Até aqui no Brasil, se formos a vários supermercados e feiras em busca de

malaguetas, verificaremos que algumas são maiores do que as outras, ou

mais claras ou mais "ardidas". Mas quando nos referimos à Malagueta,

à Piri-Piri e ao Jindungo, em geral estamos falando da mesma pimenta.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Igrejas abertas no Brasil em 2010

O primeiro milagre do heliocentrismo - Como proteger-se do poder do Estado? Esse, que é um dos temas capitais da ciência política, já consumiu muita tinta e derrubou vários acres de florestas. A descrição mais clássica é a de Thomas Hobbes, para quem o Estado é um monstro feroz, um Leviatã, que, apesar de promover todo tipo de abuso, justifica-se por proteger os indivíduos da guerra de todos contra todos que configura o estado de natureza.

Enquanto o poder público, leia-se, o soberano, garante a vida de seus súditos, devemos-lhe obediência total, o que inclui aceder aos menores caprichos e tolerar as piores injustiças. É só quando o soberano nos condena à morte, isto é, quando deixa de assegurar-nos a existência, que temos o direito de rebelar-nos contra sua autoridade.

OK. Admito que não é um cenário muito idílico. Mas tampouco o era a Inglaterra sob a guerra civil no século 17. De lá para cá, as coisas melhoraram bastante, pelo menos neste cantinho de mundo que chamamos de Ocidente democrático. Embora o poder do Estado ainda seja algo a temer, contamos hoje com um rol de direitos e garantias fundamentais que são geralmente observados. Quando não o são, podemos gritar e espernear. Na pior das hipóteses, já não precisamos ser condenados à morte para conquistar o direito de revolta. Mais até, em determinadas circunstâncias o Estado pode ser considerado um aliado, que promove ativamente o bem-estar através de instituições como a Previdência social e serviços de educação e saúde.

Fiz essa longa introdução, que em jornalismo chamaríamos de nariz de cera, para propor uma discussão que julgo importante: em que nível devem materializar-se essas garantias fundamentais? Elas dizem respeito a indivíduos ou a grupos? É possível conceder benefícios a setores específicos?

Coloco essas questões a propósito da isenção de impostos para igrejas, que foi tema de reportagem de minha autoria publicada na edição de domingo da Folha de S.Paulo (quem tiver acesso à edição digital poderá conferir também a arte, que não é disponibilizada através do link). Para quem não é assinante de nada ou não está com paciência de ficar singrando hipertextos, faço um rápido resumo da matéria.

Eu, Claudio Angelo, editor de Ciência da Folha, e Rafael Garcia, repórter do jornal, decidimos abrir uma igreja. Com o auxílio técnico do departamento Jurídico da Folha e do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo Gasparian Advogados, fizemo-lo. Precisamos apenas de R$ 418,42 em taxas e emolumentos e de cinco dias úteis (não consecutivos). É tudo muito simples. Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para criar um culto religioso. Tampouco se exige número mínimo de fiéis.

Com o registro da Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio e seu CNPJ, pudemos abrir uma conta bancária na qual realizamos aplicações financeiras isentas de IR e IOF. Mas esses não são os únicos benefícios fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituição, templos de qualquer culto são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas pelos próprios criadores. Ou seja, se levássemos a coisa adiante, poderíamos nos livrar de IPVA, IPTU, ISS, ITR e vários outros "Is" de bens colocados em nome da igreja.

Há também vantagens extratributárias. Os templos são livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório (já sagrei meus filhos Ian e David ministros religiosos) e direito a prisão especial.

A discussão pública relevante aqui é se faz ou não sentido conceder tantas regalias a grupos religiosos. Não há dúvida de que a liberdade de culto é um direito a preservar de forma veemente. Trata-se, afinal, de uma extensão da liberdade de pensamento e de expressão. Sem elas, nem ao menos podemos falar em democracia.Em princípio, a imunidade tributária para igrejas surge como um reforço a essa liberdade religiosa. O pressuposto é o de que seria relativamente fácil para um governante esmagar com taxas o culto de que ele não gostasse. Esse é um raciocínio que fica melhor no papel do que na realidade.

É claro que o poder de tributar ilimitadamente pode destruir não apenas religiões, mas qualquer atividade. Nesse caso, cabe perguntar: por que proteger apenas as religiões e não todas as pessoas e associações? Bem, a Constituição em certa medida já o fez, quando criou mecanismos de proteção que valem para todos, como os princípios da anterioridade e da não cumulatividade ou a proibição de impostos que tenham caráter confiscatório.

Será que templos de fato precisam de proteções adicionais? Até acho que precisavam em eras já passadas, nas quais não era inverossímil que o Estado se aliasse à então religião oficial para asfixiar economicamente cultos rivais. Acredito, porém, que esse raciocínio não se aplique mais, de vez que já não existe no Brasil religião oficial e seria constitucionalmente impossível tributar um templo deixando o outro livre do gravame.

No mais, mesmo que considerássemos a imunidade tributária a igrejas essencial, em sua presente forma ela é bem imperfeita, pois as protege apenas de impostos, mas não de taxas e contribuições. Ora, até para evitar a divisão de receitas com Estados e municípios, as mais recentes investidas da União têm se materializado justamente na forma de contribuições. Minha sensação é a de que a imunidade tributária se tornou uma espécie de relíquia dispensável.

Está aí o primeiro milagre do heliocentrismo: não é todo dia que uma igreja se sacrifica dessa forma, advogando pela extinção de vantagens das quais se beneficia.
Sei que estou pregando no deserto, mas o Brasil precisaria urgentemente livrar-se de certos maus hábitos, cujas origens podem ser traçadas ao feudalismo e ao fascismo, e enfim converter-se numa República de iguais, nas quais as pessoas sejam titulares de direitos porque são cidadãs, não porque pertençam a esta ou aquela categoria profissional ou porque tenham nascido em berço esplêndido. O mesmo deve valer para associações. Até por imperativos aritméticos, sempre que se concede uma prebenda fiscal a um dado grupo, onera-se imediatamente todos os que não fazem parte daquele clube. Não é demais lembrar que o princípio da solidariedade tributária também é um dos fundamentos da República.

Hélio Schwartsman, 45 anos, é articulista da Folha.

Eis o link dessa matéria: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u660688.shtml

Infinity Chili - a mais ardida do mundo


Com cultivo da variedade Infinity Chili, uma empresa britânica desbanca a recordista indiana Bhut Jolokia e cria a nova pimenta mais ardida do mundo. Testes na Universidade de Warwick confirmaram o título, pois a nova variedade atingiu 1.176.182 pontos na escala Scoville, contra os 1.041.427 da Bhut Jolokia. A escala Scoville é usada para medir o quanto uma pimenta é “quente”. Cada unidade dessa escala equivale a quantidade de vezes que um extrato da pimenta precisa ser diluído para que ela seja neutralizada. Para ter uma idéia da potência da Infinity Chili, basta saber que a nossa poderosa malagueta fica na faixa dos 50.000 e 100.000 pontos e o gás pimenta usado para controlar multidões, 2.000.000 de pontos. A empresa Fire Foods, responsável pelo desenvolvimento da nova pimenta, não perdeu tempo e já lançou um produto, o molho Infinity Chili, avisando aos consumidores que, em outros lotes, a graduação Scoville poderá ser ainda maior.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

LULA abraça as lavadeiras


Além dos agraciados e das celebridades presentes (atores, cineastas, cantores, pintores, músicos, produtores culturais, políticos, jornalistas...) a grande atração da noite foi o Presidente Lula. Em emocionado discurso, ele saudou os homenageados e sancionou o Plano Nacional de Cultura (PNC), cujas diretrizes, objetivos e estratégias terão validade pelos próximos dez anos. Recebeu calorosos aplausos de todos os presentes.

Finda a cerimônia, ainda no palco, o Presidente posou ao lado de todos os homenageados, sendo que dedicou uma atenção especial aos integrantes do Coral. Pacientemente, ele abraçou e beijou cada lavadeira, recebeu afagos e recados ao pé do ouvido e demonstrou vivo interesse por Almenara, cidade que visitou durante suas primeiras campanhas à presidência.

Após a meia-noite, a confraternização continuou na Villa Riso, onde o Ministério da Cultura ofereceu um jantar aos agraciados e convidados. Mais uma vez, as lavadeiras atraíram as atenções dos presentes. Viraram celebridades.

Para Carlos Farias, regente e coordenador do coral, “o valor simbólico dessa medalha é imensurável e queremos dividir a alegria deste momento com todo o povo brasileiro, especialmente do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, onde a cultura popular se transformou em verdadeiro veículo de inclusão para milhares de pessoas.

Para Adélia Barbosa, que recebeu a medalha em nome do grupo, “essa viagem e esse prêmio foram a realização de um sonho. Não temos palavras para agradecer tanto carinho. Esperamos que as portas continuem se abrindo e o nosso coral possa encontrar apoiadores para os novos projetos.”

Coral das Lavadeiras e Carlos Farias recebem medalha da OMC


As lavadeiras de Almenara e o compositor Carlos Farias, regente do coral, foram recebidos com todas as honras no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite de quinta-feira, 02 de dezembro, onde participaram da 16ª edição da entrega de insígnias da Ordem do Mérito Cultural, na condição de agraciados.
De acordo com o Ministro Juca Ferreira “foram escolhidas pessoas que exprimem a nossa tradição, a nossa vanguarda, as diferentes correntes de criação cultural e artística do nosso povo. Uma parte de um todo rico e generoso. Pessoas que enfrentaram a repressão política e pessoas que enfrentaram o anonimato e o preconceito. Atores e líderes comunitários; religiosos e dançarinos; humoristas e diplomatas; escritores e artistas plásticos... Pessoas que, a exemplo de Darcy Ribeiro, o grande homenageado, recriam, inventam e refletem sobre a nação que somos e a que queremos ser.”

domingo, 23 de maio de 2010

Carlos Farias e Lavadeiras no Conexão


O cantor/compositor Carlos Farias e as Lavadeiras de Almenara participaram do Conexão Vivo, um dos mais importantes festivais de música do país, realizando apresentações memoráveis em Belo Horizonte (25 de abril), Ouro Preto (30 de abril) e Juiz de Fora (07 de maio). Na capital de todos os mineiros o grupo se apresentou na Praça da Liberdade, tendo como convidado especial o extraordinário Saulo Laranjeira. Ele dividiu os vocais com Carlos Farias e as lavadeiras nas canções “Beira mar da Vigia”, “Fruto do Norte”, “Cálix Bento” e ainda brindou a platéia com os personagens Veia Messina e José da Silva Pereira.

Na antiga Vila Rica e em Juiz de Fora o convidado especial foi o violeiro Chico Lobo. Ele também contribuiu para o enriquecimento da performance do grupo, com a sua música e simpatia. Além do espetáculo musical (ao som de violões, sopros e percussões), as Lavadeiras e Carlos Farias realizaram a palestra/oficina “conversa de lavadeira” nas três cidades, integrando o público em ações que valorizam a cultura brasileira, a cidadania e a responsabilidade sócio ambiental. O projeto contou com o patrocínio da Vivo, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

A arte das lavadeiras vira exemplo para artistas e pesquisadores

Fundado em 1991, por sugestão do então prefeito Roberto Martins Magno, o Coral das Lavadeiras de Almenara encontrou no cantor e pesquisador cultural Carlos Farias o estímulo e a parceria necessária para se transformar em um dos mais importantes grupos de cultura popular do Brasil. Juntos já se apresentaram em Portugal (2002), Espanha (Expo Zaragoza 2008) e em várias cidades brasileiras, cantando um repertório de canções de domínio público recolhidas nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri: batuques, sambas de roda, modinhas, rezas e toadas. São cânticos de trabalho, lúdicos e de louvação, revelando influências africanas, indígenas e portuguesas. Suas histórias de vida comovem e estimulam platéias de todas as idades.

Segundo Carlos Farias, a vida e a arte das lavadeiras se transformaram em objeto de estudo para estudantes, professores e artistas de todo o Brasil, além de influenciar e colaborar para o surgimento de outras manifestações semelhantes em outras regiões do país. Além da dissertação da professora Sâmara de Atayde, publicada na UERJ em 2008, na qual compara a música das lavadeiras com as cantigas de amigo galaico-portuguesas da Idade Média, outras dissertações e monografias já foram concluídas ou estão em curso, enfocando diferentes aspectos desse trabalho. Para a professora Nilza Maria Pacheco Borges, da Universidade Federal de São João Del Rey, que também está concluindo o seu mestrado com uma dissertação sobre a música das lavadeiras de Almenara, “trata-se de um grupo de referência educacional, que merece ser considerado e inserido nas universidades e nas escolas em geral, como exemplo de inclusão social e cidadania”.

O futuro do grupo: em busca de sustentabilidade

Ainda segundo Carlos, quando iniciou esse trabalho, em 1991, não imaginava que houvesse tamanha repercussão. Entretanto, com a globalização e o advento da internet, houve uma crescente valorização da cultura em todo o mundo. Ela passou a ser vista como ferramenta estratégica para a inclusão e a geração de renda, dialogando diretamente com as outras áreas. No Brasil, essa mudança de paradigma resultou no surgimento do marketing cultural, das leis de incentivo e na proposição de um Plano Nacional de Cultura, por parte do atual governo, no qual a cultura é vista na sua dimensão simbólica, econômica e cidadã. Nesse contexto, o seu trabalho artístico com as lavadeiras ganhou visibilidade. Juntos gravaram os antológicos Cd-livros “Batukim Brasileiro” e “Aqua” e agora buscam parceria para a gravação de um terceiro volume contendo outras canções de domínio público, ainda inéditas em disco.

“A nossa luta é pela sustentabilidade. As leis de incentivo são um forte aliado, porém nem sempre é possível captar recursos para os projetos. Entretanto, a nossa responsabilidade cresce a cada ano. Uma de nossas grandes alegrias foi o surgimento do coral infantil “Lavadeirinhas de Almenara”, formado por netas e bisnetas das lavadeiras, uma beleza, que precisa ser apoiado pela comunidade almenarense. Acho que ninguém fez mais pela cidade do que essas mulheres. Elas colocaram Almenara no cenário artístico brasileiro e mundial. Merecem carinho, respeito e reconhecimento”, conclui.