segunda-feira, 30 de abril de 2012


Xingu, o filme


Andar por terras em que ninguém andou... Esse era o sonho de três irmãos, nos anos 40, que vai mudar o destino de muita gente que vive ainda no coração do Brasil.

Por Eleonora Rosset, psicanalista   


Eles são os descendentes dos donos da terra que Cabral descobriu para os portugueses mas nunca tinham sido respeitados. Eram milhões, morreram muitos no contato com os brancos mas, agora, graças aos Villas Bôas, os índios tem um território só deles, o Parque do Xingu.

“Eles nunca tiveram fronteiras mas agora, fronteira era a melhor coisa que eles poderiam ter”, escreve Orlando Villas Bôas no livro que conta a história dos irmãos, “A Marcha para o Oeste”.

O filme “Xingu”,inspirado nesse livro, mostra com beleza e emoção, o que foi a vida dos três irmãos que, um dia, resolveram ir atrás de uma aventura, a primeira expedição que levaria homens brancos ao Roncador- Xingu. Era 1943 e Getulio Vargas estava à frente do governo.

Claudio (João Miguel), Orlando (Felipe Camargo) e Leonardo (Caio Blat), juntaram-se a peões e garimpeiros analfabetos e seguiram de avião de hélice rumo à floresta para fazer contato com os índios.

E, após o primeiro encontro, vencidos o medo e a estranheza, Orlando escreve:

“Para mim eles não era selvagens. Eu, simplesmente estava diante de outra civilização. O encontro mudou as nossas vidas para sempre.”

Cao Hamburger ( “O Ano em que Meus Pais Sairam de Férias” 2006) dirigiu “Xingu”acompanhando os irmãos defensores dos índios, fazendo com que os brasileiros que nunca tinham ouvido falar deles ou muito vagamente, fizessem essa descoberta.

Fazer contato era a missão deles. Com suas canoas a remo, cruzavam os rios de Mato Grosso, à procura de povos indígenas que nunca tinham visto um homem branco.

Mas os impecilhos, as decepções, a falta de apoio do governo, as lutas com os homens que cobiçavam as terras dos índios e pagavam para vê-los exterminados e as brigas entre os irmãos por causa das condições de vida que estavam longe da aventura sonhada inicialmente, são o recheio do filme.

Estamos num pedaço virgem do Brasil e o que restou dos povos da mata, amparados pelos Villas Bôas, iniciou em 1961 (ano em que terras da reserva são doadas por decreto do presidente Janio Quadros), um trabalho que irá culminar com a solidificação do Parque Nacional do Xingu, hoje uma realidade.

Cao Hamburguer, o diretor do filme diz:

“- Queria muito ter o ponto de vista dos índios nessa história, por isso fiz questão que participassem da pesquisa, contribuíssem no roteiro e trabalhassem como atores.”

Cao Hamburguer conseguiu com isso que o filme tivesse uma autenticidade necessária para dar peso à epopéia que é contada. E também chamar a atenção para a causa defendida.

Depois de “Xingu”, além da admiração pelo trabalho dos irmãos Villas Bôas, indicados ao prêmio Nobel em 1971, outro ponto importante é levantado: a questão dos povos indígenas ainda precisa ser mais amplamente discutida pelos brasileiros.

Como integrar o índio de maneira sensata, ao mesmo tempo respeitando sua cultura? É uma tarefa difícil, mas necessária, para a nossa geração e as futuras.


OPINIÃO DO EDITOR DO BLOG: 
Hoje assisti pela segunda vez esse maravilhoso filme. Levei meu filho Cauã, de 9 anos. Ao final da sessão encontrei com Ailton Krenak, que também levou o seu filho Krenba, da mesma idade. Enquanto saboreavamos açaí, falamos sobre a situação dos indígenas no mundo atual. Apesar do capitalismo selvagem, da cobiça que parece fazer parte do ser humano, ambos concordamos em um ponto fundamental: a geração dos nossos filhos está mais preparada para aceitar as diferenças e para cuidar melhor do nosso planeta. Ainda resta a esperança e uma luz no fim do...mundo. Ererhé!